Sem cortes, laser provocaria menos dor e uma recuperação mais branda, quando a recomendação da cirurgia é inevitável, seja ela plástica ou clínica, a vontade do paciente é uma só: de que a invasão no corpo ocorra da menor maneira possível. A ansiedade para que o procedimento seja realizado com laser — o que provocaria menos dor, sem cortes, com uma recuperação mais branda — é bastante comum.
Porém, o desejo do paciente e a vontade do médico de simplificar a maneira como será realizada a cirurgia podem ser os pivôs da confusão instalada nos blocos cirúrgicos. E são os procedimentos realizados por vídeo os que vivem no centro das ideias deturpadas.
A imaginação de que tudo pode ser resolvido ao toque de mágica do raio laser pode ter começado pela oftalmologia. Na década de 1970, quando a correção de miopia começou a ser realizada por intermédio da técnica, criou-se a sensação de que boa partes das cirurgias poderiam ser desenvolvidas no mesmo formato.
Junto a isso, quando os médicos queriam explicar como seria o procedimento, acabavam, comparando com a oftalmológica. "Vai ser só um 'piquezinho', tipo aquela de laser", diziam os cirurgiões. Isso gerou na cabeça das pessoas a ideia de que de uns anos para cá tudo poderia ser solucionado à laser. É o que acredita Luiz Roberto Marczyk, professor da Ortopedia de Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS):
— Como os procedimentos feitos por vídeo, por exemplo, têm cortes mínimos e recuperação rápida gera essa incorreção.
Luis Ricardo Tarragô Carvalho, coordenador dos setores de Catarata e de Cirurgia Refrativa do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), concorda com Marczyk e defende que o grande sonho das pessoas é de se tratarem sem corte aparente:
— O laser é absorvido por alguma cor e os tecidos dos olhos são transparentes. É por isso que é possível atingir a região da córnea sem danificar o resto. Em outras partes do corpo é muito mais delicado — destaca Carvalho.
Em via de regra, a população em geral têm em mente que todas as cirurgias minimamente invasivas são a laser, conforme o chefe do Serviço de Cirurgia Oncológica da Santa Casa de Porto Alegre, Antonio Kalil. Para ele, esse é um dos grandes mitos na área cirúrgica:
— Os minimamente invasivos necessitam de minúsculas incisões por onde são introduzidos pequenos instrumentos. O laser é usado especialmente na oftalmologia, e não nas cirurgias minimamente invasivas de abdômen e tórax.
Ação dos raios
Os Raios Laser são fontes de energia movidas por gases nobres, como C02, argônio e rubi, e usado em várias especialidades médicas. O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, Claudio Roncatti, arrisca dizer que o laser é capaz de substituir o bisturi em qualquer situação. Na prática, apenas 5% dos casos se usa o laser, conforme o ortopedista Luiz Roberto Marczyk.
Aqueles que se utilizam do laser afirmam que as vantagens são maiores. Como se trata de um procedimento de invasão microscópica, se reduz o tempo de hospitalização e de espera pelo retorno às atividades habituais. Os riscos de sangramentos e infecções também são menores. Por outro lado, não é por ser feito a laser que a anestesia pode ser dispensa ou riscos eliminados. Por lidar com níveis de calor, um procedimento mal realizado pode resultar em queimaduras e comprometimento dos órgãos.
As diferenças entre as vídeos
Por ter cortes mínimos, as cirurgias por vídeo são as mais confundidas pelos pacientes com àquelas a laser. A técnica que consiste em algumas perfurações no objeto de tratamento permite que uma câmera ótica seja introduzida no interior do organismo juntamente com um bisturi. Por ser de menor agressão ao corpo, se comparada às tradicionais de corte e costura, esse tipo também permite que os pacientes se recuperem mais rapidamente. Não é raro que o indivíduo nem necessite de internação.
Veja quais são os principais tipos:
Video Laparoscopia: a maior parte dos procedimentos são realizados para a retirada de pedras de vesículas e de apêndices, com quatro cortes na barriga (dois de um centímetro e dois de cinco milímetros). É possível também a retirada do útero e operações de esôfago, estômago, rins e para obesidade por este método, com até cinco cortes em dimensões semelhantes.
Video Artroscopia: dois ou três furos no local de meio centímetro são o suficiente para se operar articulações como ombro, joelho, punho, cotovelo e tornozelo. Em um dos buracos se introduz o soro fisiológico, que expande a área a ser tratada para que a câmera introduzida por outro orifício possa observar o interior da estrutura. É usada por muitos atletas, que já podem retornar às atividades de impacto em cerca de dez dias.
Saiba o que é usado em cada cirurgia
Laser é a abreviatura de Light Amplification by the Stimulated Emission of Radiation (amplificação da luz pela emissão estimulada de radiação). A ferramenta foi empregada inicialmente na oftalmologia em experimentos de fotocoagulação em retina de animais. Em 1971, seu uso se difundiu e começou a ser usado em áreas médicas. Veja as áreas onde a aplicação é mais comum:
Oftalmologia
A oftalmologia praticamente não trabalha mais com bisturi há mais de 30 anos. Em vez de cortar o tecido do olho, o laser é capaz de evaporar o local por meio de ondas de calor. Assim, a incisão se torna mais precisa. A técnica permite que o procedimento seja realizado em 20 minutos para cada olho, no máximo.
:: Glaucoma: O laser é capaz de secar pequenas hemorragias provocadas pelo diabetes.
:: Catarata: Após a cirurgia de cataratas é comum que uma membrana se forme atrás da lente que foi implantada no olho. O laser é capaz de gerar pequenos orifícios para a abertura dessa membrana.
:: Refrativa: Esse é o tipo mais popular. Com o laser, o médico lapida a córnea para devolver a visão de qualidade ao paciente sem o uso de lentes, com um corte que é 30 vezes menor que um grão de arroz e sem sangramento. O método só tem efeitos comprovados em portadores de miopia, astigmatismo e hipermetropia que não enxerguem de longe. Para perto o óculo segue sendo recomendável. A anestesia é feita com colírio ou injeção ao redor do globo ocular.
Dermatologia
O laser pode ser utilizado em vários tipos de doenças de pele, menos para tratar tumores malignos. Veja as mais comuns:
:: Psoríase e vitiligo: o raio favorece a produção de melanócitos, células responsáveis pela pigmentação da pele.
:: Má formação vascular: os hemangiomas, popularmente chamados de varizes, podem ser contornados com aplicações de laser. O feixe de luz realiza a fotocoagulação e, por consequência, a secagem desses vasos.
Medicina estética
Esta é uma das áreas que mais tem se apropriado dos benefícios do laser, tanto para cirurgias, quanto para tratamentos de beleza, como retirada de manchas e olheiras, tratamento de rugas e rejuvenescimento facial. Entretanto pequenos cortes são necessários para a entrada do equipamento:
:: Suor excessivo: atua nas regiões da face e do corpo, principalmente, axilas, mãos e pés, eliminando as glândulas sudoríparas e diminuindo a transpiração.
:: Lipoaspiração: o aparelho de laser0 é acoplado a uma cânula de um milímetro de largura, que o conduz até as células de gordura conhecidas como adipócitos e pode ser realizado no corpo e no rosto. A energia luminosa rompe a membrana dessas células de gordura. O óleo contido nessas estruturas é liberado e removido através da cânula.
Urologia
Apesar de ser menos agressivo e reduzir os riscos de complicações para os pacientes, o laser ainda é pouco usado nos hospitais gaúchos, com exceção do tratamento de pedras nos rins. Conforme o chefe do serviço de Urologia da PUCRS, Jorge Antônio Pastro Noronha, o alto custo do equipamento e dos procedimentos faz com que haja esse retardo de investimento. A boa notícia é que o equipamento deve chegar ao Estado dentro de poucos meses.
:: Cálculo renal: a luz amplificada do laser promove calor e é capaz de desintegrar a pedra a tal ponto que é expelida naturalmente na urina, sem que o paciente perceba. O aparelho de laser é acoplado em um cano de cerca de 3,5 milímetros e introduzido pela uretra. O seu foco é afinado para que atue diretamente no foco, assim, é capaz de quebrar o cálculo em qualquer local do trato urinário: uretra, bexiga ou interior do rim.
:: Tumores e estreitamento do trato urinário: o aumento da próstata faz com que haja estreitamento do trato urinário, o que atinge metade dos homens com mais de 50 anos. Para diminuir a próstata é possível usar o laser para pulverizá-la até que se desobstrua. O método também pode ser aplicado para retirada da próstata, eficaz no tratamento de tumores. O procedimento realizado pelo laser de vaporização permite uma intervenção ambulatorial e o indivíduo é liberado em seguida e sem sonda.
Ginecologia
A ginecologista especializada em laser terapia e videoterapia, Fabíola Zoppas Fridman, afirma que a primeira coisa que as mulheres perguntam quando uma cirurgia é indicada é se podem fazer a lazer? Isso porque o retorno ao trabalho é mais rápido e não há cicatrizes. A ferramenta não é indicada para cânceres, que são procedimentos complexos, mas sim para doenças benignas ou pré-malignas.
Tratamentos realizados habitualmente apenas com lazer:
:: HPV de colo e verruga genital: substitui a cauterização, que queima a pele e oferece o risco de retorno.
:: Estética ginecológica: o calor do lazer é capaz de diminuir ou aumentar os lábios genitais sem a necessidade do uso do bisturi. O diâmetro da vagina também pode ser alterado da mesma forma. A diferença para o método tradicional é que nesses casos, a anestesia pode ser local com sedação em vez de anestesia geral. O tempo de espera para se ter relações sexuais é de 15 dias no máximo em comparação com a tradicional que é de 40 dias.
Tratamentos em conjunto com videocirurgia:
:: Ligadura de trompas: Depois de fazer os cortes necessários, o aparelho de laser é introduzido juntamente com a câmera de vídeo por um orifício de 2 centímetros, no máximo. Feixes de luz são disparados, cortando as trompas.
:: Endometriose: A câmera de vídeo é introduzida na barriga para identificar os focos de endometriose. Oferece maior segurança e a possibilidade de acessar locais mais complicados através dos métodos tradicionais, como bexiga e intestino. Além disso, é capaz de preservar melhor o ovário, reduzindo ainda mais o risco de infertilidade.
Cardiologia
Em Porto Alegre, o Instituto de Cardiologia chegou a fazer mais de 30 procedimentos nos últimos cinco anos utilizando o laser. A ferramenta era empregada, principalmente, naqueles pacientes em que a veia coronária era tão comprometida de que não havia possibilidade para a realização de ponte de safena. Há um ano, pelo menos, as cirurgias cessaram. Observou-se que o raio laser perfurava o músculo cardíaco e isso fazia com que se criasse uma inflamação ao longo do trajeto do laser. Ou seja, uma neoformação de capilares no miocárdio que ocorre quando novos capilares se formariam pela reação inflamatória.
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